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segunda-feira, julho 27, 2009

Relembre o jogador - Mark Fish 

Se hoje o maior destaque da seleção sul africana é o inglês(?) de Joel Santana, vale lembrar que nem sempre foi assim. Os Bafana Bafana já gozaram de muito prestígio e status de potência regional. Mark Fish é um ex-zagueiro e ilustre representante dos anos dourados do futebol sul africano.
Fish nasceu em 14 de março de 74, em Cape Town. Portanto, mesmo sendo branco, conheceu o Apartheid de perto. Foi criado pela mãe e pelo padrasto em um pequeno apartamento. Do alto de seu 1,91m, iniciou a vida futebolística em Pretoria como atacante no amador Arcadia Sheperds.
Aos 17 anos Fish foi descoberto pelo técnico Roy Matthews e levado ao Jomo Cosmos, onde se profissionalizou, ainda como centroavante. De olho no grandalhão, Matthews fez dele um zagueiro central, posição em que atuaria até a aposentadoria. A carreira ia de vento em popa e apenas três anos depois veio a transferência para um clube maior, o Orlando Pirates.
Foi nos Pirates que o zagueiro possivelmente alcançou seu auge. O treinador era Mike Makaab e eram tempos abundantes em troféus, com o título sul africano em 94, o bi nacional e a copa dos campeões africanos em 95 e a Copa das Nações Africanas no ano seguinte, justamente na primeira tentativa desde que a Africa do Sul fora autorizada pela FIFA, em 92, a voltar aos torneios oficiais. Em 97 o zagueiro participou da Copa das Confederações, disputada na Arábia Saudita e vencida pelo Brasil de Romário e Ronaldo. Pela seleção nacional, Fish fez 62 aparições e 2 gols.
Com tamanha exposição, a África ficou pequena para o zagueirão. Por incrível que possa parecer, Fish rejeitou um convite de sir Alex Ferguson para jogar em seu time de coração e rumou para Roma, contratado pela Lazio. Após passagem relâmpago pela bota (15 jogos e 1 gol), Mark desembarcou na terra da rainha para receber o maior salário do Bolton. A adaptação foi rápida e logo ele recebeu elogios dos companheiros e rivais, notadamente Andrew Cole. Infelizmente a sorte virou-lhe as costas e o Bolton foi rebaixado. Mesmo assim ele continuou na equipe, para delírio dos fãs.
Em novembro de 2000 Fish deixou o Bolton para jogar no Charlton, cuja camisa ele defendeu em 102 oportunidades, tendo anotado três gols. Cinco temporadas depois, um empréstimo desastroso. Jogando pelo Ipswich Town, bastaram 45 minutos para Big Fish, como ficou conhecido, romper os ligamentos cruzados, contusão que o fez pendurar as chuteiras de maneira prematura.
Após longa recuperação, Mark retornou à Africa do Sul em 2007 para tentar defender seu primeiro clube, o Jomo Cosmos. Fora de forma, não jogou uma partida sequer e reiterou a aposentadoria.
Fora das quatro linhas, Fish tem uma vida bastante midiática. Em 97, casou-se com Loui Fish, ex-modelo de langerie e socialite. Tiveram dois filhos, Luke e Zeke. Em 2006, Fish pediu o divórcio, mas logo em seguida voltou atrás. No ano passado ele entrou com novo pedido de separação e desde então o casal vive se engalfinhando nos tribunais sul africanos, para deleite dos tablóides locais.
Ao regressar ao continente negro, Fish engajou-se em diversas campanhas humanitárias, muitas delas relacionadas à erradicação da pobreza e ao desenvolvimento do futebol local, num programa para crianças de 9 a 12 anos em parceria com o Barcelona. Teve atuação destacada e bem sucedida como embaixador da candidatura sul africana para a Copa de 2010. Ou seja, Fish será figurinha carimbada nos flashs das transmissões no ano que vem.
Para aqueles que temem que a criminalidade afete o próximo mundial, vale lembrar que em agosto passado a casa de Fish em Mooikloof foi invadida e roubada por cinco homens armados (incluindo uma AK-47). Apesar de Loui e Luke Fish estarem na casa, felizmente ninguém ficou ferido.
Ficha
Mark Fish

Data de Nascimento: 14/03/1974
Local de Nascimento: Cape Town, África do Sul<> Clubes que defendeu:
1991-93: Jomo Cosmos

1994-96: Orlando Pirates

1996-97: Lazio (ITA)

1997-2000: Bolton (ING)

2000-05: Charlton (ING)

2005: Ipswich (ING)

2007: Jomo Cosmos


Seleção:Jogos: 62Gols: 2Principais títulos: - Campeonato Sul Africano (1994 e 1995) - Copa dos Campeões da África (1995) - Copa Africana de Nações (1996)

domingo, julho 26, 2009

Relembre o jogador: Dahlin 

“Relembre o jogador: Dahlin”

Uma das estatísticas mais intrigantes envolvendo as Copas do Mundo é aquela segundo a qual pelo menos um dos quatro semifinalistas da última edição sequer se classifica para a próxima. Tem sido assim, de maneira ininterrupta, desde 86, e tudo indica que será assim em 2010, dado o tremendo esforço que Portugal de Carlos Queiroz tem feito para manter a tradição.

Onze anos atrás coube à Suécia manter o tabu. Quatro anos antes, os suecos, liderados por Thomas Brolin e Kennet Anderson, surpreenderam o mundo ao ficarem com o terceiro lugar na Copa dos EUA. Mas aquele time tinha mais que Brolin, Anderson e Larsson. Tinha Martin Nathaniel Dahlin.

Filho de um músico venezuelano de origem africana e de uma psicóloga sueca, Dahlin nasceu em 16 de abril de 68 e foi batizado em homenagem a Martin Luther King, assassinado doze dias antes em Memphis. Apesar de ter nascido em Uddevalla, foi em Lund que ele passou sua infância. Aos dez anos ficou maravilhado diante dos gols de Kempes na copa de 78 e decidiu seguir carreira profissional.

A carreira de Dahlin teve um início tardio (ao menos para os padrões atuais) e um fim prematuro (para qualquer padrão). Ele iniciou sua carreira no Malmo, clube que defendeu entre 1988 e 1991 e onde fez 39 gols em 79 jogos. Sem perder tempo, em seu primeiro ano como profissional o atacante foi convocado para a seleção sueca. Teve seu primeiro encontro com Romário nas olimpíadas de Seul. Quatro anos depois lá estaria Dahlin, disputando a semifinal da Euro-92.

Aos 23 anos o promissor atacante brigou com o Malmo e foi negociado com o Borussia Mönchengladbach, onde permaneceu por cinco temporadas, sendo vice-campeão da copa da Alemanha em 92 a faturando o mesmo troféu em 95, ao lado de Effenberg. Em 93, fora eleito o jogador sueco do ano. Em grande forma, recebeu convite do Everton para ganhar 50% a mais. Rejeitou, pois preferia jogar na Itália ou na Espanha.

1994 foi “o” ano da carreira do jogador. Tudo conspirou para o sucesso da seleção em solo americano: o time era forte, o ambiente era bom e o estilo de jogo encaixava contra o adversário mais difícil, vide o empate na primeira fase e derrota suada para o Brasil na semifinal. Inspirado, Dahlin foi às redes quatro vezes, contra Camarões, Rússia(2) e Arábia Saudita. Além disso, contribuiu com três assistências. De quebra, tamanha semelhança com o ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson lhe rendeu o apelido de O.J.

As boas atuações pela seleção e pelo Borussia despertaram o interesse da Roma, para onde Dahlin rumou na temporada 96-97. Contrariando as expectativas, sua passagem pela bota foi relâmpago e decepcionante: três jogos, nenhum gol e passagem de volta para o Borussia. Interessado em disputar um campeonato de primeiro nível, Dahlin teve uma boa temporada na Alemanha e conseguiu uma transferência para o Blackburn Rovers.

Na Inglaterra o atacante manteve o bom futebol e anotou quatro gols em dezenove jogos disputados na temporada 97-98. A temporada seguinte foi decisiva, negativamente, em sua carreira. Uma contusão durante um treino fez com que ele disputasse apenas cinco jogos. Posteriormente, o Blackburn envolveu-se numa controvérsia com a seguradora em torno do reembolso pela contusão do atleta, em caso que teve idas e vindas e culminou em decisão contrária ao clube, que teve que arcar com a bagatela de 4 milhões de libras.

Sendo pouco aproveitado, transferiu-se para o Hamburgo em 1999, onde atuou por uma temporada até anunciar sua prematura aposentadoria, em decorrência da contusão sofrida nos tempos de Blackburn. Encerrou, desta forma, uma bem sucedida carreira, marcada por 123 gols em 267 jogos.

Após pendurar as chuteiras, Dahlin se tornou empresário de jogadores. Representa, entre outros, Markus Rosenberg (Werder Bremen), Ola Toivonen (PSV), Behrang Safari (Basel), Jonas Olsson (West Brom) e Matias Concha (Bochum). Além disso, é dono da marca de roupas, a “Dahlin” (http://www.dahlin.nu/).

Recentemente Dahlin declarou-se um grand fã de Ibrahimovic. No entanto, evitou classificar o craque como o melhor sueco de todos os tempos. Ele diz não gostar de comparar jogadores de gerações diferentes e lembrou de Gunnar Nordahl, artilheiro da Série A por cinco temporadas seguidas nos anos 50. Comparações à parte, o certo é que Dahlin escreveu seu nome na história das Copas.

Ficha
Dahlin

Data de Nascimento: 16/04/1968
Local de Nascimento: Udevalla, Suécia <> Clubes que defendeu:
1988-1991: Malmo-Suécia

1991-1996: Borussia Mönchengladbach-Alemanha

1996-1997: Roma-Itália

1996-1997: Borussia Mönchengladbach-Alemanha

1997-1998: Blackburn Rovers-Inglaterra

1998-1999: Hamburgo-Alemanha


Seleção:Jogos: 33Gols: 20Principais títulos: - Copa da Alemanha (1995)

segunda-feira, julho 20, 2009

Era uma vez em Nasseia 

- Aí ele deu uma carretilha no goleiro e completou de cabeça para selar o placar da final. Foi assim que ganhamos o tetra.
- Ué, Fabinho, mas da última vez você disse que seu primo fez o gol do título de letra
- Você deve estar se confundindo

Fabinho era o menino rico da paupérrima Nasseia, interior do Piauí. Ainda fora das ondas do rádio, Nasseia confiava na família de Fabinho, dona do único jornal da cidade, para saber o que ocorria fora de suas fronteiras. Como quatro em cinco nasseios não sabiam ler, Fabinho praticamente narrava a história do pequeno povoado. Como seis em cinco nasseios eram apaixonados por futebol, não chega a causar estranheza o fato de várias das histórias do guri gravitarem em torno do universo futebolístico.

Foi por intermédio de Fabinho que Nasseia ficou sabendo do jogaço disputado entre Brasil e Polônia na copa de 38, em que Wilimowski marcou quatro vezes e Leônidas anotou sem chuteira. O menino jura de pé junto ter sido carregado nos ombros por Domingo da Guia durante as comemorações.

Além de porta-voz dos acontecimentos externos, Fabinho era generoso nos relatos de causos domésticos. Ninguém esquecia os 1487 gols anotados por Nhô Fernando, avô do menino e fundador do Correio de Nasseia. Ou do tio Adriano, que em viagem a São Paulo ensinou a Leônidas como aplicar uma bicicleta Feito este que fez de titio o presidente do Nasseia Futebol Clube, justamente na época da inolvidável excursão que a equipe fez a Milão para enfrentar a Inter de Giuseppe Meazza em 39. As fotos foram roubadas por ciganos búlgaros em Trieste, mas há quem jure ter visto os ingressos do embate.

Era impressionante a variedade de assuntos dominados pelo pimpolho. Fabinho sabia tudo de rádio, de xadrez, de peão, de bafo, de armadilha para pegar tatu, de buraco em banheiro pra ver menina pelada, de esconderijo no mato e de futebol de botão. Justiça seja feita, o menino era um ás com estas fichinhas. De acordo com o Correio de Nasseia, Fabinho vencera seis dos últimos sete campeonatos piauienses nas modalidades pré-mirim, mirim e infantil.

Tamanho sucesso levou o menino a se arriscar nas peladas da cidade. Rápido, ambidestro, criativo e dotado de instinto goleador, impressionou a todos logo de cara. Passou a jogar com meninos dois anos mais velhos e mesmo assim fazia deles gato e sapato.

Dez meses após arriscar suas primeiras embaixadas, Fabinho reforçou o Nasseinha, tradicional saco de pancadas do campeonato local. Fez a diferença e se tornou um divisor de águas no sertão piauiense. Anotou oito gols em sete jogos e levou o Nasseinha ao título inédito. Coberto de glórias, foi convocado para a seleção estadual.

A ascensão foi meteórica e quando abriu os olhos Fabinho tinha levado o Piauí à final contra o Rio de Janeiro, após atuações de gala contra gaúchos nas quartas e paulistas nas semifinais. O primeiro jogo da decisão foi disputado na capital do país e, sob um verdadeiro dilúvio, os pequenos heróis piauienses seguraram um inacreditável 0x0 em São Januário. Descrente de qualquer possibilidade de hospedar um jogo desta magnitude, a prefeitura de Teresina nem se preocupara em providenciar um estádio, o que causou um deus nos acuda às vésperas da decisão. Após verdadeiro mutirão entre os sertanejos, a pequena Picos foi eleita para receber a finalíssima.

Ironicamente, tamanho esforço foi quase em vão para os nasseios. Os 400 quilômetros que separavam Nasseia de Picos eram quilômetros demais para que os locais pudessem prestigiar seu ídolo mirim. Alheio a tudo isso, o garoto comeu a bola. Em jornada inspirada, Fabinho foi às redes duas vezes, de falta e de cabeça. Os cariocas tinham mais time e empataram o duelo a quatro minutos do fim. O balde de água fria não abateu a seleção do Piauí, que entrou compenetrada na prorrogação. O lance decisivo foi narrado assim por Fabinho aos seus amigos alguns dias depois, no banco da praça de Nasseia:

- O Jaime bateu o tiro de meta curto pra mim. Quando veio o primeiro, enfiei entre as canetas. Disparei e levei o segundo com um drible da vaca. Cruzei a linha do meio de campo e passei no meio de dois. A bola começou a quicar e tirei o volante deles com um chapéu. O zagueiro veio, joguei na frente e, antes de fazer o gol, fintei o goleiro com um drible de corpo. Logo na saída de bola dos cariocas o juiz apitou e ficamos com o título.

O ambiente foi tomado por gargalhadas:

- Fabinho, pelo amor de deus. De todas as suas mentiras, esta consegue ser a mais ridícula. E olha que isto é muito difícil. Ou alguém aqui conhece história de jogador que driblou sete adversários antes de fazer, no final da prorrogação, o gol do título? Não me leve a mal, mas acho mais fácil acreditar naquela do seu tio baixando as calças do Mussolini no estádio do que numa baboseira dessas.

Devastado e sob uma saraivada de risadas, o menino afastou-se e foi jogar futebol de botão contra si mesmo.

A centenas de quilômetros dali, numa roda, quatro garotos jogavam peão e ouviam atentamente um deles contar o que parecia ser um feito e tanto:

- Quando ele colocou na frente, vocês precisavam ver o goleiro se estatelando com o zagueiro. Foi o gol mais lindo que eu vi na minha vida.

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